
Se conheceram assim... um dia barulhento e totalmente improvável. Seus
olhos se cruzaram em meio a tantos olhares, misturados à multidão acotovelada
no espaço reduzido. Foi onde tudo começou. Ele era um enigma e como tudo aquilo
que é mágico, surgia inesperadamente, de supetão, mesclado aos dias corridos. E
como o coelho que sai da cartola, sem avisar, alegrava os dias dela quando
levava uma garrafa de vinho para embriagar a quarta-feira careta e sem
graça. Sem regras, sem cobrança. Era tudo de mais que ela precisava diante da
vida quadrada que levava. Gargalhadas gostosas, filmes distintos, beijos
ardentes perdidos nos ponteiros da madrugada. E aquele relógio que sempre
surpreendia começou a atrasar. O padrão era o mesmo, ela sabia, mas o que
sobrepujava começou a faltar. Já não bastava mais o repentino aparecimento no
dia qualquer da semana. Os dias começaram a ter 24 horas e ela jurava poder
contar cada segundo deles. O elemento surpresa que brindava o clímax tornou-se
um incômodo que agora a perturbava no cotidiano acelerado do dia a dia. A
imagem daquele homem deixou de ser um sorriso no canto da boca. Agora era a
maquiagem borrada, feito o palhaço do circo que agora tomava o lugar do mágico
no picadeiro. Ela culpava a sociedade, a idade, a cidade, os hormônios...
em vão. Motivada por aquele medo que agora preenchia os espaços antes
embriagados, ela resolveu se afastar. E com o distanciamento percebeu que nunca
fizera falta. Sem sentimento, sem reciprocidade. Era tudo o que ela menos
precisava diante da vida revolta que levava. E terminaram assim... Seus olhos
não se cruzaram nem um momento sequer em meio ao turbilhão de duvidas e
perguntas esquecidas em um canto espremido da cabeça. E em uma esquina que
antes fora palco de um dos encontros mais lindos que ela podia lembrar, a
cortina fechou. Só o palhaço ficou por mais alguns dias, na vã esperança de dar
um sorriso sequer. O Gran Finale nunca veio... E a mágica
terminou sem aplausos.