Eduardo apareceu em sua porta as nove
horas em ponto. Vestido com um blazer azul marinho, uma calça jeans bem
ajustada e uma Mercedes preta. Amanda suspirou baixinho. Não conseguia entender
como ele havia se encantado por ela.
— Como consegue ficar ainda mais
bonita? — Sorriu
Amanda corou. Não sem antes suspirar
baixinho.
— Posso escolher o restaurante? — disse
ele enquanto manobrava o carro.
— Hum... será que corro esse risco?
Ele abriu um sorriso largo.
— Confie em mim.
A conversa entre eles era espontânea, e
o tempo pareceu voar até chegarem ao destino. Assim que estacionou o carro
Amanda espantou-se.
— Que coincidência, Eduardo... Esse é
meu restaurante preferido!
—
jura? Gosta sempre dos melhores?
Ela
desceu refletindo sobre as palavras dele. Aquele lugar não era um dos melhores
da cidade. Para falar a verdade, ficava em um local bem escondido no bairro do
Leblon.
O
garçom guiou-os até uma mesa ao lado da janela. A vista era deslumbrante.
—
Olha que legal! Sempre sento nessa mesa quando venho aqui. — gargalhou Amanda
achando aquilo tudo o máximo.
—
Não é para menos. O melhor lugar com a melhor companhia. Agora só o melhor dos
vinhos para deixar a noite perfeita.
A
noite fluiu, as horas passaram. Conversaram sobre publicidade, sobre a empresa,
sobre o projeto, sobre o país... Eduardo parecia conhecer em detalhes sua vida,
sua alma, seus medos.
—
Não entendo como já não virou Diretora da Empresa. Juro.
—
Foi você mesmo quem disse que sou insegura!
Ele
sorriu... De uma maneira familiar. Amanda parecia conhecer aquele homem.
—
Você está insegura. E por conhecer tão bem sua capacidade é que posso afirmar
isso. Você deveria estar neste cargo mesmo antes do Projeto da Secretaria de
Cultura.
Amanda
sentiu um arrepio subrir-lhe as costas. Aquilo estava ficando realmente
estranho.
—
Como... Como sabe que eu estava na disputa por esse projeto?
Eduardo
escondeu o sorriso. Parecia ter se assustado com a pergunta de Amanda.
—
Como assim?
—
Do Projeto da Secretaria de Cultura!
—
Tenho acompanhado o trabalho da Empresa há algum tempo e... fiquei sabendo
dessa concorrência.
—
Mas como sabe que era eu quem estava a frente dele?
Eduardo
deu de ombros.
—
Não sei... Eu chutei. Sei lá.
Amanda
ajeitou-se na cadeira, relaxando. Não sabia porque estava tão assustada com o
assunto. Havia algo de diferente no rapaz à sua frente.
Eduardo
chamou o garçom.
—
Vamos fazer o pedido. Carne ou frango? — Olhou para a mulher sentada à sua
frente com olhar preocupado.
—
Carne.
—
Como sempre...
Amanda
fixou o olhar em Eduardo. Ela ia ficar maluca.
—
Por favor, dois Filés ao molho madeira com purê de batatas.
Amanda
bateu com o cardápio na mesa.
—
Vai me contar o que está acontecendo?!
O
garçom, ao assustar-se com a cena, agradeceu o pedido e se retirou.
Eduardo
sorriu.
—
Não gosta do prato? Vai entender com o tempo que sou um pouco autoritário.
—
Me explica o que está acontecendo, Eduardo! Filé ao molho madeira é meu prato
preferido! Quem é você?
—
Calma... Foi só coincidência.
—
Não! Eu conheço você... Desde a primeira vez que te vi eu soube que você não
era um estranho!
—
Ainda bem. Graças a isso que você me convidou para o café, lembra? — gargalhou.
—
Para! O que está acontecendo aqui! Se não me disse agora, vou embora de taxi!
Eduardo
viu que Amanda estava perturbada.
—
Vou te explicar... Calma. — ficou serio. — Ontem estive na empresa e o Sr. João
Neto me levou para uma turnê. Me contou sobre as ultimas concorrências, sobre
você... Que você estava assumindo a gerência... Aliás, te elogiou muito.
Amanda
continuava séria. Estava na defensiva. Ainda não sentia-se convencida.
—
Então encontrei a Patrícia, sua amiga.
—
Patrícia? Como ela não me falou nada sobre isso?
—
O Presidente pediu sigilo sobre mim até que eu fosse formalmente apresentado.
Bom... Como o Sr. João falou da sua proximidade com a Patrícia, eu conversei
com ela sobre seus hábitos, sobre seu trabalho... Agora somos colegas de
projeto. Eu gosto de saber com quem divido minhas horas de serviço.
—
E por que Patrícia falaria do que eu gosto de comer?
—
Ela não falou... quero dizer... Nós saímos para almoçar e ela sugeriu esse
restaurante, que concidentemente, ela deixou escapar seu o seu preferido.
Amanda
sentiu-se ridícula. Como pôde ser tão boba. O que estava pensando? Que um dos
homens mais ricos da Publicidade iria sequestrá-la?
—
Me desculpe, Eduardo... E não sei o que está acontecendo comigo. Acho que estou
estressada com o novo cago. Não sei nem se vou conseguir mantê-lo.
Eduardo
pegou as mãos de Amanda e apertou-as.
—
Preste muita atenção no que vou dizer. Você tem toda a capacidade do mundo para
assumir a Diretoria da empresa. Entendeu? Você não pode deixar essa sua
insegurança afastá-la do que você mais quer!
Ela
assuntou-se com a convicção contida nas palavras dele. Como podia saber se
conhecia tão pouco de sua vida.
Ela
confirmou com a cabeça, ainda tonta com o olhar do homem seguro do que falava.
Ele
soltou suas mãos. Após respirar profundamente, voltou a atenção para a refeição
que acabara de chegar.
Amanda
comeu devagar. Queria prolongar ao máximo aquela noite que, embora parecesse
estranha, proporcionava momentos cheios de magia.
—
E o livro? Trouxe ele com você?
Amanda
sorriu, pegou a bolsa e retirou o livro de dentro.
Os
olhos de Eduardo brilharam. De certa maneira parecia estar ganhando o maior
tesouro do mundo. Por alguns segundos ele titubeou com o livro nas mãos.
—
Por que nunca comprou um desses antes? Tem dinheiro pra isso.
—
É uma raridade. O dinheiro não compra tudo, Amanda.
Uma
certa melancolia tomou conta do olhar do rapaz. Amanda podia jurar que estavam
úmidos.
—
Está tudo bem?
Ele
assuntou-se.
—
Claro! Tudo bem demais. — Passou as mãos pelo rosto. — Vamos pedir a conta?
+++
O caminho para casa foi silencioso. A
alegria do jantar se fora de maneira inexplicável. Amanda olhou para Eduardo,
que dirigia concentrado na estrada, agora melancólico.
— Não vai chegar atrasado amanhã,
ouviu? Vou fazer algumas alterações no projeto. O Sr. João Neto vai amar. Essa
noite, de certa maneira, foi inspiradora. Culpa sua, Sr. Eduardo Freire, que me
fez acreditar na capacidade de conquistar a Diretoria da Faces Marketing e
Comunicação! — sorriu.
Ele continuou sério, absorto pela
estrada ainda úmida pela garoa que caía. Amanda continuou a observá-lo até
voltar a atenção para o caminho. O silêncio era ensurdecedor.
— Falei alguma coisa errada?... Eu...
sinto muito se disse...
— Para de se desculpar, Amanda! Você
não pode continuar assim se quiser chegar a Diretoria! Deixa essa insegurança
boba de lado! Você não tem que se sentir assim... Seja mais enfática, coloque
sua posição. Você pode! Você tem talento!
Os olhos de Amanda encheram-se de
lágrimas. Sempre fora uma menina que necessitava de alguém para protege-la, que
nunca sentia convicção em suas ideias.
Eduardo suspirou.
— Me desculpe. E que me dói ver você
acuada por aquele bando de incompetentes no trabalho. — Esfregou o rosto. — Amanda...
você consegue. Acredite.
O silêncio voltou a inundar o carro que
se aproximava da casa de Amanda. Assim que estacionou, Eduardo voltou-se para
ela e segurou-lhe as mãos.
— Promete que amanhã pela manhã vai
respirar fundo, ir até o Presidente e dizer que só entregará o Projeto final do
Transito de for para o cargo de Diretoria.
Amanda gargalhou alto. Aquilo era uma
loucura. Mas o sorriso sumiu quando percebeu o olhar reprovador de Eduardo.
— Como assim? Isso não existe! Meu
projeto nem é tão bom assim.
— Amanda... Esse projeto vai mudar o
rumo da Faces. Vale bilhões. É um projeto federal, que vai ser espalhado pelos
quatro cantos do país!
— Por isso mesmo! Você acha que eles me
deixariam presidir esse projeto?
Eduardo continuou a olhá-la no fundo
dos olhos.
— Você pode, Amanda. Se eu te ajudar,
com pequenos ajustes, seu projeto não vai ser negado. Siga todos os passos
contidos nessas anotações. Passei a tarde fazendo isso. — entregou um envelope
para ela — Eu garanto que com isso ficará perfeito. Mas... a condição é que
você fique na Diretoria da empresa.
— Por que se preocupa tanto comigo? —
disse absorta pelo homem que parecia conhecer sua alma.
— Amanda... estou perdidamente
apaixonado por você. Mas isso não importa... o que importa é que... amanhã...não
vou mais voltar para a empresa.
— Como assim?? — disse Amanda assustada
com tudo que conseguia absorver.
— Não posso explicar. — segurou o rosto
da menina com as mãos. — Preste muita atenção. Você tem que acreditar em mim.
— Por que não vai voltar amanhã? Quando
volta?
— Amanda...
— O que está acontecendo? Por que não
volta. — gritou com os olhos cheios de lágrimas.
Eduardo puxou Amanda e beijou-a com uma
vontade contida. O encontro dos lábios era perfeito. A energia entre eles era
mágica, insaciável, ardente.
— Eu tenho que ir. — disse Eduardo
enquanto apertava a mulher contra o seu peito. Parecia não querer que o mundo
girasse.
— Volta quando?
— Eu ligo para você.
Um tom de despedida estava contido nas
palavras do rapaz e uma tristeza profunda apertou o peito de Amanda. Mas quando
ele sorriu para ela, sentiu novamente um frio percorrer-lhe a nuca. Aquele
sorriso não era estranho. De onde o conhecia?
Beijaram-se novamente e o momento
pareceu perdurar por horas, embora os minutos do relógio apontassem a brevidade
do tempo.
— Tenho que ir. Entro em contato com
você.
— Não quer me explicar o porquê? —
implorou com os olhos suplicantes.
Ele balançou a cabeça.
— Eu entro em contato com você —
repetiu com tom pesaroso.
A
dor e a sensação de vazio continuou mesmo após Amanda ver o carro desaparecer
na esquina. Enxugou as lágrimas e olhou para o envelope com as anotações do
Eduardo. Aquilo era insano. Que dia havia sido aquele? Mal acabara de se
despedir e uma saudade dolorida a perturbava como nunca. Esfregou o rosto e
subiu as escadas devagar até alcançar o elevador. Precisava de uma boa noite de
sono. Na manhã seguinte saberia o que fazer. Inclusive, como pedir a Diretoria
da Faces.
Continua...
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