sexta-feira, 2 de março de 2018

Atemporal ( Parte II)





Eduardo apareceu em sua porta as nove horas em ponto. Vestido com um blazer azul marinho, uma calça jeans bem ajustada e uma Mercedes preta. Amanda suspirou baixinho. Não conseguia entender como ele havia se encantado por ela.
— Como consegue ficar ainda mais bonita? — Sorriu
Amanda corou. Não sem antes suspirar baixinho.
— Posso escolher o restaurante? — disse ele enquanto manobrava o carro.
— Hum... será que corro esse risco?
Ele abriu um sorriso largo.
— Confie em mim.
A conversa entre eles era espontânea, e o tempo pareceu voar até chegarem ao destino. Assim que estacionou o carro Amanda espantou-se.
— Que coincidência, Eduardo... Esse é meu restaurante preferido!
— jura? Gosta sempre dos melhores?

Ela desceu refletindo sobre as palavras dele. Aquele lugar não era um dos melhores da cidade. Para falar a verdade, ficava em um local bem escondido no bairro do Leblon.
O garçom guiou-os até uma mesa ao lado da janela. A vista era deslumbrante.
— Olha que legal! Sempre sento nessa mesa quando venho aqui. — gargalhou Amanda achando aquilo tudo o máximo.
— Não é para menos. O melhor lugar com a melhor companhia. Agora só o melhor dos vinhos para deixar a noite perfeita.
A noite fluiu, as horas passaram. Conversaram sobre publicidade, sobre a empresa, sobre o projeto, sobre o país... Eduardo parecia conhecer em detalhes sua vida, sua alma, seus medos.
— Não entendo como já não virou Diretora da Empresa. Juro.
— Foi você mesmo quem disse que sou insegura!
Ele sorriu... De uma maneira familiar. Amanda parecia conhecer aquele homem.
— Você está insegura. E por conhecer tão bem sua capacidade é que posso afirmar isso. Você deveria estar neste cargo mesmo antes do Projeto da Secretaria de Cultura.
Amanda sentiu um arrepio subrir-lhe as costas. Aquilo estava ficando realmente estranho.
— Como... Como sabe que eu estava na disputa por esse projeto?
Eduardo escondeu o sorriso. Parecia ter se assustado com a pergunta de Amanda.
— Como assim?
— Do Projeto da Secretaria de Cultura!
— Tenho acompanhado o trabalho da Empresa há algum tempo e... fiquei sabendo dessa concorrência.
— Mas como sabe que era eu quem estava a frente dele?
Eduardo deu de ombros.
— Não sei... Eu chutei. Sei lá.
Amanda ajeitou-se na cadeira, relaxando. Não sabia porque estava tão assustada com o assunto. Havia algo de diferente no rapaz à sua frente.
Eduardo chamou o garçom.
— Vamos fazer o pedido. Carne ou frango? — Olhou para a mulher sentada à sua frente com olhar preocupado.
— Carne.
— Como sempre...
Amanda fixou o olhar em Eduardo. Ela ia ficar maluca.
— Por favor, dois Filés ao molho madeira com purê de batatas.
Amanda bateu com o cardápio na mesa.
— Vai me contar o que está acontecendo?!
O garçom, ao assustar-se com a cena, agradeceu o pedido e se retirou.
Eduardo sorriu.
— Não gosta do prato? Vai entender com o tempo que sou um pouco autoritário.
— Me explica o que está acontecendo, Eduardo! Filé ao molho madeira é meu prato preferido! Quem é você?
— Calma... Foi só coincidência.
— Não! Eu conheço você... Desde a primeira vez que te vi eu soube que você não era um estranho!
— Ainda bem. Graças a isso que você me convidou para o café, lembra? — gargalhou.
— Para! O que está acontecendo aqui! Se não me disse agora, vou embora de taxi!
Eduardo viu que Amanda estava perturbada.
— Vou te explicar... Calma. — ficou serio. — Ontem estive na empresa e o Sr. João Neto me levou para uma turnê. Me contou sobre as ultimas concorrências, sobre você... Que você estava assumindo a gerência... Aliás, te elogiou muito.
Amanda continuava séria. Estava na defensiva. Ainda não sentia-se convencida.
— Então encontrei a Patrícia, sua amiga.
— Patrícia? Como ela não me falou nada sobre isso?
— O Presidente pediu sigilo sobre mim até que eu fosse formalmente apresentado. Bom... Como o Sr. João falou da sua proximidade com a Patrícia, eu conversei com ela sobre seus hábitos, sobre seu trabalho... Agora somos colegas de projeto. Eu gosto de saber com quem divido minhas horas de serviço.
— E por que Patrícia falaria do que eu gosto de comer?
— Ela não falou... quero dizer... Nós saímos para almoçar e ela sugeriu esse restaurante, que concidentemente, ela deixou escapar seu o seu preferido.
Amanda sentiu-se ridícula. Como pôde ser tão boba. O que estava pensando? Que um dos homens mais ricos da Publicidade iria sequestrá-la?
— Me desculpe, Eduardo... E não sei o que está acontecendo comigo. Acho que estou estressada com o novo cago. Não sei nem se vou conseguir mantê-lo.
Eduardo pegou as mãos de Amanda e apertou-as.
— Preste muita atenção no que vou dizer. Você tem toda a capacidade do mundo para assumir a Diretoria da empresa. Entendeu? Você não pode deixar essa sua insegurança afastá-la do que você mais quer!
Ela assuntou-se com a convicção contida nas palavras dele. Como podia saber se conhecia tão pouco de sua vida.
Ela confirmou com a cabeça, ainda tonta com o olhar do homem seguro do que falava.
Ele soltou suas mãos. Após respirar profundamente, voltou a atenção para a refeição que acabara de chegar.
Amanda comeu devagar. Queria prolongar ao máximo aquela noite que, embora parecesse estranha, proporcionava momentos cheios de magia.
— E o livro? Trouxe ele com você?
Amanda sorriu, pegou a bolsa e retirou o livro de dentro.
Os olhos de Eduardo brilharam. De certa maneira parecia estar ganhando o maior tesouro do mundo. Por alguns segundos ele titubeou com o livro nas mãos.
— Por que nunca comprou um desses antes? Tem dinheiro pra isso.
— É uma raridade. O dinheiro não compra tudo, Amanda.
Uma certa melancolia tomou conta do olhar do rapaz. Amanda podia jurar que estavam úmidos.
— Está tudo bem?
Ele assuntou-se.
— Claro! Tudo bem demais. — Passou as mãos pelo rosto. — Vamos pedir a conta?
+++

         O caminho para casa foi silencioso. A alegria do jantar se fora de maneira inexplicável. Amanda olhou para Eduardo, que dirigia concentrado na estrada, agora melancólico.
— Não vai chegar atrasado amanhã, ouviu? Vou fazer algumas alterações no projeto. O Sr. João Neto vai amar. Essa noite, de certa maneira, foi inspiradora. Culpa sua, Sr. Eduardo Freire, que me fez acreditar na capacidade de conquistar a Diretoria da Faces Marketing e Comunicação! — sorriu.
Ele continuou sério, absorto pela estrada ainda úmida pela garoa que caía. Amanda continuou a observá-lo até voltar a atenção para o caminho. O silêncio era ensurdecedor.
— Falei alguma coisa errada?... Eu... sinto muito se disse...
— Para de se desculpar, Amanda! Você não pode continuar assim se quiser chegar a Diretoria! Deixa essa insegurança boba de lado! Você não tem que se sentir assim... Seja mais enfática, coloque sua posição. Você pode! Você tem talento!
Os olhos de Amanda encheram-se de lágrimas. Sempre fora uma menina que necessitava de alguém para protege-la, que nunca sentia convicção em suas ideias.
Eduardo suspirou.
— Me desculpe. E que me dói ver você acuada por aquele bando de incompetentes no trabalho. — Esfregou o rosto. — Amanda... você consegue. Acredite.
O silêncio voltou a inundar o carro que se aproximava da casa de Amanda. Assim que estacionou, Eduardo voltou-se para ela e segurou-lhe as mãos.
— Promete que amanhã pela manhã vai respirar fundo, ir até o Presidente e dizer que só entregará o Projeto final do Transito de for para o cargo de Diretoria.
Amanda gargalhou alto. Aquilo era uma loucura. Mas o sorriso sumiu quando percebeu o olhar reprovador de Eduardo.
— Como assim? Isso não existe! Meu projeto nem é tão bom assim.
— Amanda... Esse projeto vai mudar o rumo da Faces. Vale bilhões. É um projeto federal, que vai ser espalhado pelos quatro cantos do país!
— Por isso mesmo! Você acha que eles me deixariam presidir esse projeto?
Eduardo continuou a olhá-la no fundo dos olhos.
— Você pode, Amanda. Se eu te ajudar, com pequenos ajustes, seu projeto não vai ser negado. Siga todos os passos contidos nessas anotações. Passei a tarde fazendo isso. — entregou um envelope para ela — Eu garanto que com isso ficará perfeito. Mas... a condição é que você fique na Diretoria da empresa.
— Por que se preocupa tanto comigo? — disse absorta pelo homem que parecia conhecer sua alma.
— Amanda... estou perdidamente apaixonado por você. Mas isso não importa... o que importa é que... amanhã...não vou mais voltar para a empresa.
— Como assim?? — disse Amanda assustada com tudo que conseguia absorver.
— Não posso explicar. — segurou o rosto da menina com as mãos. — Preste muita atenção. Você tem que acreditar em mim.
— Por que não vai voltar amanhã? Quando volta?
— Amanda...
— O que está acontecendo? Por que não volta. — gritou com os olhos cheios de lágrimas.
Eduardo puxou Amanda e beijou-a com uma vontade contida. O encontro dos lábios era perfeito. A energia entre eles era mágica, insaciável, ardente.
— Eu tenho que ir. — disse Eduardo enquanto apertava a mulher contra o seu peito. Parecia não querer que o mundo girasse.
— Volta quando?
— Eu ligo para você.
Um tom de despedida estava contido nas palavras do rapaz e uma tristeza profunda apertou o peito de Amanda. Mas quando ele sorriu para ela, sentiu novamente um frio percorrer-lhe a nuca. Aquele sorriso não era estranho. De onde o conhecia?
Beijaram-se novamente e o momento pareceu perdurar por horas, embora os minutos do relógio apontassem a brevidade do tempo.
— Tenho que ir. Entro em contato com você.
— Não quer me explicar o porquê? — implorou com os olhos suplicantes.
Ele balançou a cabeça.
— Eu entro em contato com você — repetiu com tom pesaroso.
 A dor e a sensação de vazio continuou mesmo após Amanda ver o carro desaparecer na esquina. Enxugou as lágrimas e olhou para o envelope com as anotações do Eduardo. Aquilo era insano. Que dia havia sido aquele? Mal acabara de se despedir e uma saudade dolorida a perturbava como nunca. Esfregou o rosto e subiu as escadas devagar até alcançar o elevador. Precisava de uma boa noite de sono. Na manhã seguinte saberia o que fazer. Inclusive, como pedir a Diretoria da Faces.




Continua...

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