quinta-feira, 10 de maio de 2018

Números são números...




Número são números... Vieram da antiguidade e desde então têm transformado a vida de milhões de pessoas. Seja na taxa de glicose, na idade, na Receita Federal ou na conta bancária. A verdade é que os números sempre foram responsáveis por classificações, distinções, por separar o joio do trigo, o preto do branco, o ouro do lixo e o chique do brega. Somos mais ou somos menos. Não importa o que existe escondido no seu rosto, quantos números tem a sua conta bancária talvez seja o suficiente para mudar todo um conceito ou uma oportunidade. Quantos anos você tem talvez seja um fator preponderante na hora de saber se uma relação será digna de respeito ou de desprezo. Números... superficiais, mas sempre eles. Eles mandam e fazem o mundo girar. Milhões na conta, mais um filho, menos um dia de vida... Eles regem o universo. Mas se existe um número que faz meu chão abrir é o do seu telefone. Esse, quando aparece na minha tela, faz todo o resto parecer bobagem. E todos os outros, que talvez façam algum sentido para humanidade, não me arrancam nem a metade do sorriso que foge de minha boca quando me deparo com o seu. Ah... se um dia eu tivesse que escolher apenas um número nessa vida, eu nem hesitaria em responder, meu número é você.


sexta-feira, 9 de março de 2018

No Dia Internacional da Mulher, uma homenagem aos homens


No Dia Internacional da Mulher eu gostaria de homenagear os homens que passaram pela minha vida. Todos eles. Desde o que me gerou e educou até os que nunca mais voltaram. Alguns me levaram ao céu, outros me provaram que o céu pode ser aqui mesmo, com os pés no chão. Tiveram os que me deram as mãos, os que a pediram em casamento e até os que necessitaram delas como apoio. Os que me valorizaram e os que me fizeram refletir... e muito. Mas uma coisa é certa, todos eles, mesmo os que só passaram de maneira fugaz, de certa forma me construíram. Uma soma de dores e alegrias que me faz agradecer todos os dias e, com todo orgulho do mundo, amar ser o que sou... mulher.

Tirinha do Nupi I


terça-feira, 6 de março de 2018

Concurso Literário FNDE


Poderão participar do presente concurso estudantes devidamente matriculados em turmas de ensino fundamental e médio das escolas públicas do Brasil, desde que atendam as normas do Edital e de seus anexos.

*Candidatos menores de 18 anos a contar da data de abertura das inscrições, devem apresentar autorização de seu responsável legal.

Poderão ser inscritas obras de literatura nos seguintes gêneros literários: poema; conto, crônica, novela, teatro; romance; memória, diário, biografia, relatos de experiências; história em quadrinhos.

As inscrições serão realizadas unicamente por meio eletrônico, nesta página. O período de inscrição inicia-se em 15 de dezembro de 2017 e encerra-se em 02 de abril de 2018.

Para a homologação da inscrição, as redes de ensino devem realizar o cadastro do coordenador do livro.

Para saber mais acesse:.

http://www.fnde.gov.br/concursoliterario/concurso.html



Atemporal (Ultima parte)





Ainda escovava os dentes olhando-se no espelho, repassando todos os acontecimentos do dia. As perguntas vinham como um vendaval em sua memória... Como ela a conhecia tão bem? Como pode se apaixonar? O Livro... Porque o interesse no livro?
Os olhos de Amanda arreagalaram-se. Comprara aquele livro em um Sebo no centro da Cidade. Lembrava bem do dia em que o encontrou perdido na prateleira empoeirada, no canto escuro da loja. Quando foi ao caixa...
— Esse livro é uma raridade. É um dos mais antigos da loja.
Amanda ignorou o senhor atrás do balcão. A cabeça andava apressada com a competição pelo novo cargo da empresa.
—Quanto é?
O vendedor permaneceu em silêncio.
— Esse livro está na família há anos. Acho que meu tataravô o guardava em sua própria biblioteca. Ele sempre disse que era especial porque dentro tem uma foto de um casal e se alguém, algum dia comprasse, seria abençoado com o amor vivido por eles.
Amanda correu para o quarto. A foto! Não podia ser. Começou a tirar as coisas de dentro da gaveta da cabeceira. As mãos tremiam. Com a adrenalina percorrendo suas veias, jogou tudo no chão... até ver a foto. Lá estava ele... Era Eduardo sorrindo. Era ele na foto. Uma foto amarelada pelo tempo. Se recordava bem que se apaixonara pelo sorrido do rapaz que um dia fora dono daquele livro.
Soltou um grito com o soar da campainha. Ainda tremia ao se aproximar da porta e quando viu o rapaz pelo olhos mágico, suas pernas bambearam.
— Quem é você? — disse com a voz trêmula, através da porta fechada.
— Amanda, por favor... Deixa eu me explicar. Abre a porta.
— Não! Quem é você?
— Eu sou exatamente quem você pensa que eu sou... só preciso explicar. Confia em mim... O que eu posso adiantar e que sei muito da sua vida, que me apaixonei por você e que eu realmente acredito que tem talento para assumir a empresa...
A porta abriu-se devagar. O rosto de Eduardo perdeu a cor quando viu a foto nas mãos de Amanda. Com os olhos marejados, entrou devagar e sentou-se no sofá, colocando a cabeça entre as mãos. Respirou fundo.
— Vou tentar do começo. Pode parecer loucura, mas você tem que acreditar em mim.
Amanda sentou-se ao lado do rapaz.
— Minha família carrega uma herança... Não podemos tirar fotos. Nossas almas ficam aprisionadas no papel. Ninguém em minha linhagem sanguínea pôde perpetuar momentos, guardar recordações. Nunca, nem uma foto sequer, Amanda. Essa foto, que estava dentro desse livro, foi um erro. Barbara foi uma mulher especial para mim. Foi um sentimento genuíno, grande... Mas ela, com a sua maneira egoísta de amar, mesmo sabendo da minha incapacidade, tirou a foto. Não acreditei que ela fosse capaz de me aprisionar dessa maneira. Ela alegou que não podia viver sem mim, que precisava de uma recordação, mas naquele momento ela me perdeu. Eu não queria aquele amor medíocre, possessivo... — levantou o rosto e olhou para Amanda. — Eu a vi morrer, eu vi todas as pessoas da minha família virarem pó, gerações se despediram de mim. Não queira saber há quantos anos vejo minha vida passar na esperança de um dia achar quem comprou aquele maldito livro!
Amanda estava absorta pelas palavras do rapaz.
— Venho vivendo como qualquer outra pessoa. Montei minha empresa, fingindo passa-la de geração para geração... Sempre eu no comando. Meu Deus, como que queria sumir, desaparecer.  — esfregou os olhos. — Então... depois de gastar muito dinheiro descobriram onde estava o livro. O vendedor, um senhor me contou sobre a mulher que comprara o livro. — Eduardo olhou para Amanda. — Lá estava seu nome.
Amanda enxugava as lágrimas enquanto mantinha o rosto baixo. Apesar da loucura, estava apaixonada.
— Eu te segui desde então... Por onde você andava, o que você fazia, como você fazia... O que te motivava, o que te encantava. E no fim... eu me apaixonei.... perdidamente.
Amanda olhou para Eduardo. Enxugou o rosto e segurou-lhe as mãos. Ele a puxou com força e beijou-a de maneira urgente e possessiva. O amor entre eles era visceral, atemporal. A dor daquele beijo era físico. Ele a afastou.
— Amanda... Eu sei que o que vou pedir não faz o menor sentido, mas guarda essa foto. Eu não quero me separar de você. Eu não suportaria viver sem você. Por favor...
— Mas, Eduardo, e o que será de nós? Você me verá envelhecer, morrer... e depois? — gritava Amanda, inconformada com a situação.
Ele caminhava de um lado para outro da sala na tentativa de raciocinar de maneira lógica.
— Amanda, nós podemos ter um filho. Um filho nosso! Eu posso cuidar dele, vê-lo crescer! Uma vida que eu sempre quis!
— E depois? Ele também vai envelhecer! — Segurou Eduardo pelo rosto. — Por favor... entenda que o que vou fazer é porque amo você demais.
Eduardo enxugava as lágrimas, enquanto confirmava com o rosto.
Amanda tentava acalmá-lo, passando as mãos em seu rosto vermelho. Beijava-lhe os olhos, o rosto, a boca. Queria sentir um pouco mais do homem que parecia ser parte de seu corpo.
— Eu não consigo! — murmurou enquanto se dirigia para a porta.
Abraçaram-se por longos minutos. Beijaram-se, riram, choraram juntos.
Amanda pegou-o pelas mãos e despediu-se. A última imagem foi o rosto do homem que tanto amava, coberto de lagrimas, desaparecer atrás da porta.
 Amanda jogou-se no chão e contorceu-se. Podia deixar as coisas como estavam. Iria viver a vida inteira com o homem que amava, ter filhos, netos... Mas era egoísmo ver Eduardo perpetuar a dor de ver todos os que mais amava, morrerem. Olhou pela janela o carro sumir na esquina. Andou até o quarto, pegou a foto do sorriso que mais a encantara em toda sua vida e rasgou devagar, como se rasgasse parte de seu corpo, que agora estava em pedaços.
+++

— Senhores... Bom dia. Como sabem, desde que o Sr. Eduardo Freire deixou nossa empresa temos trabalhado com o Vice-Presidente da Soft Business. Tem sido dias difíceis, trabalhosos, mas emocionantes.
Amanda olhava para baixo. Não escutava direito as palavras do Presidente. Segurava em suas mãos o pen drive com o projeto de trânsito. Apesar do rosto inchado e das noites mal dormidas, estava de pé e lúcida.
— Mas, apesar de todo o stress, anuncio que o projeto foi concluído. Amanda fez alguns ajustes e, com a aprovação de todos, ganhamos a concorrência. A Faces agora passa a ser a segunda maior prestadora de serviços publicitários para o Governo Federal e eu gostaria de pedir uma salva de palmas para a nossa nova Diretora de Marketing da Faces Marketing e Comunicação.
Amanda levantou-se. Um soar de palmas efusivo preencheu a sala. Acenou modestamente para todos enquanto apertava o pen drive nas mãos. Deveria estar feliz, mas a saudade era algo que ainda norteava seus dias cinzentos.
+++
Quando se dirigia para o elevador, o Vice-Presidente da Soft Business aproximou-se.
— Amanda Castro? Por favor, desculpe-me incomodá-la, mas o Sr. Feire pediu que se um dia a senhorita chegasse ao cargo de diretora, que eu deveria entregar-lhe esse envelope.
O coração de Amanda quase pulava fora do peito só de ouvir falar no nome de Eduardo. Ela agradeceu, e assim que entrou no carro, respirou fundo e abriu o envelope.
“ Amanda, amor da minha vida... de todas elas,
Não saberia dizer onde estou, o que aconteceu comigo, o que foi feito de mim. Posso garantir que minha vida, em todos esses anos, se resumiu ao pequeno espaço de tempo que vivi com você. Estou feliz. Conheci o que é o amor, em sua grandiosidade. Aquele amor cantado, idealizado, poetizado... Isso não foi, não morre, não desaparece. Mas conheço a finitude da memória e tenho quase certeza de que daqui alguns anos, vou ser apenas uma lembrança, uma imagem desbotada. Também não vou ser egoísta. Você é uma mulher linda, jovem e ainda terá filhos, netos e histórias eternizadas em fotografias. Talvez você ame alguém como eu te amei, mas mesmo assim, deixo uma lembrança de uma pessoa que levou parte de você em um beijo que não se perde nem na eternidade.
PS: Eu sabia que a diretoria seria sua.
Com todo o amor do mundo.
Eduardo Vasconcelos Freire”

Amanda enxugou as lágrimas e quase desfaleceu ao ver na outra página da carta, o desenho de Eduardo. Como não podia ser fotografado, pediu que algum artista o desenhasse. O sorriso estava lá, tal qual como ela se encantara. Apertou o papel contra o peito e soluçou até achar que não tinha mais forças. Respirou fundo e ligou o carro. Tinha uma longa noite pela frente. Amanhã seria o primeiro dia como Diretora da Faces.


FIM

segunda-feira, 5 de março de 2018

Abra os olhos





Se um dia desses, aparecesse um papel na sua frente onde estivesse escrito a seguinte frase: "Sinta-se feliz, perceba que você pode ir além", como você reagiria? 

Chutaria o papel e seguiria sua vida normalmente, ou...Perceberia que a vida está abrindo seus olhos? 

Existem pessoas que nunca descobrirão sua capacidade de vencer os obstáculos porque constantemente dão ouvidos à uma voz dentro de suas cabeças que gritam mais alto e cegam seus olhos para as oportunidades. 
Se dermos uma lida na biografia de grandes vencedores, pessoas que alcançaram seus objetivos, acharemos em TODOS um ponto em comum: A perseverança! 
Perseverança é aquela locomotiva que empurra suas pernas todos os dias em busca daquilo que você julga ser ideal e, como toda locomotiva, não cessa até chegar onde precisa! 
Todos vencedores foram homens destemidos, visionários do sucesso e souberam enxergar os "papéis" a sua frente. Estavam abertos a novas tentativas, a caminhos diferentes, contanto que os levassem ao seu único e verdadeiro conceito de felicidade. 
Na maioria das vezes, estamos todos perdidos nos atalhos e retornos da vida, porque não sabemos claramente onde se encontra nossa estação de chegada e, não sabendo aonde ir, não temos como impulsionar nossos dias em busca de nossos sonhos, tão obscuros e inconstantes. 
Existem também pessoas que sabem onde querem chegar, mas tem medo do que podem encontrar no fim da jornada...falta-lhes ousadia. 

Mandela certa vez escreveu: 

" Nosso grande medo não é o de que sejamos incapazes. 
Nosso maior medo é que sejamos poderosos além da medida. 
É nossa luz, não nossa escuridão, que mais nos amedronta.... 
...Bancar o pequeno não ajuda o mundo. Não há nada de brilhante em encolher-se para que as outras pessoas não se sintam inseguras em torno de você. 
E á medida que deixamos nossa própria luz brilhar, que inconscientemente damos às outras pessoas permissão para fazer o mesmo.'" 

Um amigo meu conseguiu juntar a ousadia e a persistência e hoje se encontra realizado e feliz com suas conquistas. Quem é ele? O mesmo que recebeu a frase do início do texto em sua última viagem.
E sabe quais foram as últimas palavras dele antes que eu pudesse me colocar a escrever esse post? 
"Embora esteja feliz, tenho certeza que posso ir muito além.'' 


Não jogue fora todos os papéis que aparecem pra você...Se chegaram em suas mãos, é porque tem algo a dizer. 

Wish you were here




Não era para ser. Era muito leve. Tão leve que voou na primeira esquina. Não suportou nem mesmo a brisa tênue da manhã que sobrou da tempestade. Bastou o sol clarear a fantasia para a realidade empurrar a vida de volta ao trilho, essa locomotiva pesada que carrega histórias nem sempre tão frágeis. Não foi dessa vez que a faísca formou a chama que arde. Ardeu sim, mas era débil, fugaz, apesar de raro. Nem toda a sintonia do mundo pode ajudar. E mais uma memória não foi capaz de se formar para perpetuar o que de fato faria a diferença na vida dos dois. Nem dele, nem dela. Ficou lá, no meio da fotografia que um dia se apaga, sem peso, sem tudo o que poderia ter sido. Se a exigência era leveza, foi tudo o que restou. Um conceito vago no meio do oceano de possibilidades, negadas pelo medo, pela dor ou pelo peso que nunca teve. No fim das contas, o que era para ser apenas leve, a vida levou.



sexta-feira, 2 de março de 2018

Atemporal ( Parte II)





Eduardo apareceu em sua porta as nove horas em ponto. Vestido com um blazer azul marinho, uma calça jeans bem ajustada e uma Mercedes preta. Amanda suspirou baixinho. Não conseguia entender como ele havia se encantado por ela.
— Como consegue ficar ainda mais bonita? — Sorriu
Amanda corou. Não sem antes suspirar baixinho.
— Posso escolher o restaurante? — disse ele enquanto manobrava o carro.
— Hum... será que corro esse risco?
Ele abriu um sorriso largo.
— Confie em mim.
A conversa entre eles era espontânea, e o tempo pareceu voar até chegarem ao destino. Assim que estacionou o carro Amanda espantou-se.
— Que coincidência, Eduardo... Esse é meu restaurante preferido!
— jura? Gosta sempre dos melhores?

Ela desceu refletindo sobre as palavras dele. Aquele lugar não era um dos melhores da cidade. Para falar a verdade, ficava em um local bem escondido no bairro do Leblon.
O garçom guiou-os até uma mesa ao lado da janela. A vista era deslumbrante.
— Olha que legal! Sempre sento nessa mesa quando venho aqui. — gargalhou Amanda achando aquilo tudo o máximo.
— Não é para menos. O melhor lugar com a melhor companhia. Agora só o melhor dos vinhos para deixar a noite perfeita.
A noite fluiu, as horas passaram. Conversaram sobre publicidade, sobre a empresa, sobre o projeto, sobre o país... Eduardo parecia conhecer em detalhes sua vida, sua alma, seus medos.
— Não entendo como já não virou Diretora da Empresa. Juro.
— Foi você mesmo quem disse que sou insegura!
Ele sorriu... De uma maneira familiar. Amanda parecia conhecer aquele homem.
— Você está insegura. E por conhecer tão bem sua capacidade é que posso afirmar isso. Você deveria estar neste cargo mesmo antes do Projeto da Secretaria de Cultura.
Amanda sentiu um arrepio subrir-lhe as costas. Aquilo estava ficando realmente estranho.
— Como... Como sabe que eu estava na disputa por esse projeto?
Eduardo escondeu o sorriso. Parecia ter se assustado com a pergunta de Amanda.
— Como assim?
— Do Projeto da Secretaria de Cultura!
— Tenho acompanhado o trabalho da Empresa há algum tempo e... fiquei sabendo dessa concorrência.
— Mas como sabe que era eu quem estava a frente dele?
Eduardo deu de ombros.
— Não sei... Eu chutei. Sei lá.
Amanda ajeitou-se na cadeira, relaxando. Não sabia porque estava tão assustada com o assunto. Havia algo de diferente no rapaz à sua frente.
Eduardo chamou o garçom.
— Vamos fazer o pedido. Carne ou frango? — Olhou para a mulher sentada à sua frente com olhar preocupado.
— Carne.
— Como sempre...
Amanda fixou o olhar em Eduardo. Ela ia ficar maluca.
— Por favor, dois Filés ao molho madeira com purê de batatas.
Amanda bateu com o cardápio na mesa.
— Vai me contar o que está acontecendo?!
O garçom, ao assustar-se com a cena, agradeceu o pedido e se retirou.
Eduardo sorriu.
— Não gosta do prato? Vai entender com o tempo que sou um pouco autoritário.
— Me explica o que está acontecendo, Eduardo! Filé ao molho madeira é meu prato preferido! Quem é você?
— Calma... Foi só coincidência.
— Não! Eu conheço você... Desde a primeira vez que te vi eu soube que você não era um estranho!
— Ainda bem. Graças a isso que você me convidou para o café, lembra? — gargalhou.
— Para! O que está acontecendo aqui! Se não me disse agora, vou embora de taxi!
Eduardo viu que Amanda estava perturbada.
— Vou te explicar... Calma. — ficou serio. — Ontem estive na empresa e o Sr. João Neto me levou para uma turnê. Me contou sobre as ultimas concorrências, sobre você... Que você estava assumindo a gerência... Aliás, te elogiou muito.
Amanda continuava séria. Estava na defensiva. Ainda não sentia-se convencida.
— Então encontrei a Patrícia, sua amiga.
— Patrícia? Como ela não me falou nada sobre isso?
— O Presidente pediu sigilo sobre mim até que eu fosse formalmente apresentado. Bom... Como o Sr. João falou da sua proximidade com a Patrícia, eu conversei com ela sobre seus hábitos, sobre seu trabalho... Agora somos colegas de projeto. Eu gosto de saber com quem divido minhas horas de serviço.
— E por que Patrícia falaria do que eu gosto de comer?
— Ela não falou... quero dizer... Nós saímos para almoçar e ela sugeriu esse restaurante, que concidentemente, ela deixou escapar seu o seu preferido.
Amanda sentiu-se ridícula. Como pôde ser tão boba. O que estava pensando? Que um dos homens mais ricos da Publicidade iria sequestrá-la?
— Me desculpe, Eduardo... E não sei o que está acontecendo comigo. Acho que estou estressada com o novo cago. Não sei nem se vou conseguir mantê-lo.
Eduardo pegou as mãos de Amanda e apertou-as.
— Preste muita atenção no que vou dizer. Você tem toda a capacidade do mundo para assumir a Diretoria da empresa. Entendeu? Você não pode deixar essa sua insegurança afastá-la do que você mais quer!
Ela assuntou-se com a convicção contida nas palavras dele. Como podia saber se conhecia tão pouco de sua vida.
Ela confirmou com a cabeça, ainda tonta com o olhar do homem seguro do que falava.
Ele soltou suas mãos. Após respirar profundamente, voltou a atenção para a refeição que acabara de chegar.
Amanda comeu devagar. Queria prolongar ao máximo aquela noite que, embora parecesse estranha, proporcionava momentos cheios de magia.
— E o livro? Trouxe ele com você?
Amanda sorriu, pegou a bolsa e retirou o livro de dentro.
Os olhos de Eduardo brilharam. De certa maneira parecia estar ganhando o maior tesouro do mundo. Por alguns segundos ele titubeou com o livro nas mãos.
— Por que nunca comprou um desses antes? Tem dinheiro pra isso.
— É uma raridade. O dinheiro não compra tudo, Amanda.
Uma certa melancolia tomou conta do olhar do rapaz. Amanda podia jurar que estavam úmidos.
— Está tudo bem?
Ele assuntou-se.
— Claro! Tudo bem demais. — Passou as mãos pelo rosto. — Vamos pedir a conta?
+++

         O caminho para casa foi silencioso. A alegria do jantar se fora de maneira inexplicável. Amanda olhou para Eduardo, que dirigia concentrado na estrada, agora melancólico.
— Não vai chegar atrasado amanhã, ouviu? Vou fazer algumas alterações no projeto. O Sr. João Neto vai amar. Essa noite, de certa maneira, foi inspiradora. Culpa sua, Sr. Eduardo Freire, que me fez acreditar na capacidade de conquistar a Diretoria da Faces Marketing e Comunicação! — sorriu.
Ele continuou sério, absorto pela estrada ainda úmida pela garoa que caía. Amanda continuou a observá-lo até voltar a atenção para o caminho. O silêncio era ensurdecedor.
— Falei alguma coisa errada?... Eu... sinto muito se disse...
— Para de se desculpar, Amanda! Você não pode continuar assim se quiser chegar a Diretoria! Deixa essa insegurança boba de lado! Você não tem que se sentir assim... Seja mais enfática, coloque sua posição. Você pode! Você tem talento!
Os olhos de Amanda encheram-se de lágrimas. Sempre fora uma menina que necessitava de alguém para protege-la, que nunca sentia convicção em suas ideias.
Eduardo suspirou.
— Me desculpe. E que me dói ver você acuada por aquele bando de incompetentes no trabalho. — Esfregou o rosto. — Amanda... você consegue. Acredite.
O silêncio voltou a inundar o carro que se aproximava da casa de Amanda. Assim que estacionou, Eduardo voltou-se para ela e segurou-lhe as mãos.
— Promete que amanhã pela manhã vai respirar fundo, ir até o Presidente e dizer que só entregará o Projeto final do Transito de for para o cargo de Diretoria.
Amanda gargalhou alto. Aquilo era uma loucura. Mas o sorriso sumiu quando percebeu o olhar reprovador de Eduardo.
— Como assim? Isso não existe! Meu projeto nem é tão bom assim.
— Amanda... Esse projeto vai mudar o rumo da Faces. Vale bilhões. É um projeto federal, que vai ser espalhado pelos quatro cantos do país!
— Por isso mesmo! Você acha que eles me deixariam presidir esse projeto?
Eduardo continuou a olhá-la no fundo dos olhos.
— Você pode, Amanda. Se eu te ajudar, com pequenos ajustes, seu projeto não vai ser negado. Siga todos os passos contidos nessas anotações. Passei a tarde fazendo isso. — entregou um envelope para ela — Eu garanto que com isso ficará perfeito. Mas... a condição é que você fique na Diretoria da empresa.
— Por que se preocupa tanto comigo? — disse absorta pelo homem que parecia conhecer sua alma.
— Amanda... estou perdidamente apaixonado por você. Mas isso não importa... o que importa é que... amanhã...não vou mais voltar para a empresa.
— Como assim?? — disse Amanda assustada com tudo que conseguia absorver.
— Não posso explicar. — segurou o rosto da menina com as mãos. — Preste muita atenção. Você tem que acreditar em mim.
— Por que não vai voltar amanhã? Quando volta?
— Amanda...
— O que está acontecendo? Por que não volta. — gritou com os olhos cheios de lágrimas.
Eduardo puxou Amanda e beijou-a com uma vontade contida. O encontro dos lábios era perfeito. A energia entre eles era mágica, insaciável, ardente.
— Eu tenho que ir. — disse Eduardo enquanto apertava a mulher contra o seu peito. Parecia não querer que o mundo girasse.
— Volta quando?
— Eu ligo para você.
Um tom de despedida estava contido nas palavras do rapaz e uma tristeza profunda apertou o peito de Amanda. Mas quando ele sorriu para ela, sentiu novamente um frio percorrer-lhe a nuca. Aquele sorriso não era estranho. De onde o conhecia?
Beijaram-se novamente e o momento pareceu perdurar por horas, embora os minutos do relógio apontassem a brevidade do tempo.
— Tenho que ir. Entro em contato com você.
— Não quer me explicar o porquê? — implorou com os olhos suplicantes.
Ele balançou a cabeça.
— Eu entro em contato com você — repetiu com tom pesaroso.
 A dor e a sensação de vazio continuou mesmo após Amanda ver o carro desaparecer na esquina. Enxugou as lágrimas e olhou para o envelope com as anotações do Eduardo. Aquilo era insano. Que dia havia sido aquele? Mal acabara de se despedir e uma saudade dolorida a perturbava como nunca. Esfregou o rosto e subiu as escadas devagar até alcançar o elevador. Precisava de uma boa noite de sono. Na manhã seguinte saberia o que fazer. Inclusive, como pedir a Diretoria da Faces.




Continua...

A Verdadeira Tragédia





quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Atemporal ( Parte I)


Amanda acordou apressada naquela manhã. Precisava chegar cedo ao trabalho. A reunião havia sido marcada de última hora e atrasar-se seria a desculpa necessária para que fosse afastada do cargo recém-conquistado depois de tantas batalhas internas. Sem contar as externas. A inveja imperava em seu ambiente de trabalho e ocupar o cargo de confiança do chefe a colocava em destaque para receber críticas e boicotes da turma que convivia diariamente com ela em seu escritório.
Ainda com o pão nas mãos, desceu para a garagem. Tinha 30 minutos para chegar, e se o trânsito ajudasse, conseguiria chegar antes da equipe. Repassou a apresentação que faria, falando em voz alta dentro do carro, com a adrenalina fazendo-a esquecer de alguns detalhes.
— Calma, Amanda. Com os slides você vai se lembrar de tudo. — Apertou o estômago que a lembrava que o pão ainda repousava embrulhado sobre o banco do carro. Mas como o batom estava perfeitamente colocado em sua boca, desistiu de comer.
Assim que estacionou, desceu do carro rumo ao elevador. Olhando no relógio, viu que ainda lhe restavam 20 minutos.
Ainda agonizada com o horário, entrou no elevador e apertou o botão do décimo andar, mas quando as portas estavam quase se fechando, voltaram a se abrir. Amanda apertou os olhos. Mas que droga!. O rapaz ainda ficou parado por alguns segundos até entrar no elevador. Estampava um sorriso largo que fez Amanda corar e abaixar o rosto.
— Bom dia. — disse ele.
— Ah... bom dia — respondeu enrubescida. Sentiu-se uma criança por estar embaraçada com um simples olhar. Mas havia algo de diferente no homem ao seu lado.
— Por favor... sabe me informar onde fica a Faces Marketing e Comunicação?
Amanda o olhou com curiosidade.
— Sei. É onde trabalho... Você vai encontrar alguém?
— Na verdade vim prestar um serviço para o novo projeto da empresa.
— Que projeto?
— A campanha de marketing do novo software.
— Mas como assim... Ninguém me falou nada!
O rapaz franziu a testa.
— E... precisava?
— Não... quero dizer... Me desculpe. É que acabei de assumir o cargo da Gerência de Marketing e não fui avisada. Estranho isso. — Estendeu as mãos. — Muito prazer, me chamo Amanda Castro.
Ele estendeu as mãos e cumprimentou-a.
— Eduardo Vasconcelos.
Assim que as portas abriram, Amanda saiu na frente, não sem antes praguejar. Talvez aquela fosse a prova de que ainda não confiavam em seu trabalho. Para que contratar mais uma pessoa para o projeto? Olhou sobre os ombros e viu que Eduardo a seguia. Aquilo ia acabar atrapalhando sua promoção. Batalhara tanto para o cargo.
Assim que abriu a porta da Sala de Reuniões, a mesa ainda se encontrava vazia, como ela havia previsto. Largou os livros sobre a mesa e dirigiu-se ao computador para inserir o pen drive com sua palestra. Ainda lhe restavam 10 minutos antes da sala se assoberbar de pessoas prontas para derrubar suas convicções. Eduardo aconchegou-se em uma das cadeiras e a observava enquanto ela andava de um lado para outro, na preocupação de colocar toda a apresentação em ordem.
— Costuma ser sempre tão pontual?
— Ah? — Assustou-se ao lembrar que existia alguém na sala além dela. — Ah... sim, sempre. — Ainda olhando para o rapaz, começou a passar o texto decorado durante a madrugada. Não podia errar uma só palavra.
Ele sorriu. Havia algo nele que de certa maneira incomodava Amanda. Talvez a beleza. Eduardo era um homem de traços fortes e olhos enigmáticos.
— E charmosa, costuma também ser sempre assim?
Amanda tentou se concentrar nas anotações.
— Ah? Não entendi. — disse ainda duvidando dos seus ouvidos.
Eduardo sorriu enquanto segurava a caneta que batia levemente sobre a mesa.
— Você está de brincadeira? — disse Amanda enquanto o encarava.
— Será? — o sorriso no rosto do rapaz desapareceu dando lugar a um olhar enigmático que desconcertou Amanda. Daquele jeito ela não ia conseguir se concentrar.
Ela respirou fundo. Talvez ele estivesse ali para roubar-lhe o lugar. Só podia ser.
— Por favor, Sr. Eduardo, se não sabe, estou me concentrando para a apresentação do novo projeto que talvez desconheça a importância, portanto se não for pedir muito, gostaria que ficasse em silêncio para que eu possa me preparar. Obrigada.
Amanda virou de costas para o rapaz e tentou mais uma vez concentrar-se nas palavras que iria falar. Já nem se lembrava mais onde havia parado.
— Onde conseguiu esse livro?
Amanda suspirou ao voltar-se para Eduardo, não sem antes fazer uma expressão de desagrado.
— Fala sério! Você veio me sabotar?
A gargalhada tomou conta da sala. Eduardo parecia estar gostando do espetáculo, mas ao perceber que Amanda continuava séria, conteve-se.
— Desculpe-me. É que não consegui evitar. Você me parece tão insegura.
— Pareço o quê???
As portas abriram-se e diretores e gerentes do escritório começaram a entrar e ocupar seus assentos à mesa. O burburinho fez a conversa dissipar-se. O máximo que Amanda conseguiu fazer foi manter o olhar preso ao rapaz que ainda a observava com olhar indecifrável.
Assim que o Presidente da Faces entrou, o silêncio tomou conta do ambiente. Colocando-se extremidade da mesa, ainda de pé, saudou os presentes.
— Bom dia, senhores. Antes de mais nada, gostaria de anunciar que Amanda agora é nossa Gerente de Marketing.
Ela, ainda em frente à tela, sentiu o estômago contorcer diante dos olhares. Alguns amigáveis, mas em sua grande maioria, pode perceber a raiva contida neles. Um leve bater de palmas soou.
— Tenho mais um anúncio a fazer. O Sr. Eduardo Freire, como vocês devem saber, veio da Creative Magazine, onde foi um dos sócios proprietários e hoje é o CEO de uma das maiores revistas de softwares do país, a Soft Business.
Houve um burburinho no ambiente. Amanda sentiu o rosto ferver. Tinha agido como uma tola na frente de um dos maiores nomes da Publicidade.
— Eduardo irá no ajudar na nova campanha de marketing do nosso novo software de controle de tráfego e nós teremos a honra de contar com todo seu conhecimento e expertise.
O rapaz levantou-se e cumprimentou modestamente todos os presentes na sala, além de lançar um sorriso discreto para Amanda que o fuzilava com o olhar. Um soar de palmas preencheu o espaço que agora parecia pequeno e quente demais para Amanda.
— Muito bem. — prosseguiu o Presidente — Amanda nos preparou um esboço para a nova campanha e ela irá nos apresentar. Eduardo, gostaria que prestasse atenção e fizesse seus comentários. Vai ser um bom momento para eu ter a certeza de que coloquei Amanda no cargo correto — Deu um leve sorriso — Prossiga Amanda, por favor. — Sentou-se
Todos voltaram a atenção para a mulher estática, que por alguns segundos manteve-se em silêncio.
— Bom dia, eu... — fechou os olhos. Precisava se concentrar. Ele havia dito que era Eduardo Vasconcelos e não Eduardo Freire... Meu Deus, Eduardo Freire trabalhava com ela.
— Amanda?
Abriu os olhos. Todos a olhavam com o rosto contraído. Alguns de certa maneira sorriam, talvez apostando no seu fracasso.
— Quando falamos em tráfego, a primeira pergunta que vem à nossa mente é... — O primeiro slide surgiu — Será que vou chegar a tempo na reunião? Na Faculdade? Na escola do meu filho?...

+++

Amanda ainda aguardava o elevador quando viu o rapaz se aproximar.
— Parabéns. Confesso que fiquei surpreso.
— Obrigada. Não foi o que pareceu. Seus comentários não foram tão positivos assim e talvez custe meu pescoço.
— Eu não podia concordar em 100% com tudo que você falou. Não seria correto da minha parte e talvez... desse muito na cara.
— Como assim, “desse muito na cara”?
— O quanto eu estou encantado por você.
O silêncio tomou conta do lugar até o sinal luminoso avisar que a porta iria se abrir. Entraram em silêncio e assim permaneceram até chegar ao térreo.
— Por que não toma um café comigo? — disse Eduardo com um sorriso simpático no rosto.
— Não costumo tomar café com estranhos. — Amanda arrebitou o nariz.
— Mas... acho que não somos mais estranhos.
— Pelo que eu sei, você me disse ser o Sr. Eduardo Vasconcelos, não o Sr. “Eduardo super famoso publicitário Freire”! — apressou o passo até alcançar a saída do prédio. — Logo, não sei que você é! — Virou o corpo rumo a garagem, deixando o rapaz em pé na calçada assoberbada de pessoas que se acotovelavam apressadas com seus afazeres.
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Assim que entrou no carro sentiu-se ridícula. Ainda nem era hora do almoço e parecia ter vivido milhões de sensações naquela manhã que começara tão previsível. Assim que saiu da garagem observou Eduardo ainda parado em frente ao prédio da empresa. Algo nele era familiar... Não sabia dizer o que. Suspirou ainda repensando suas atitudes nada maduras.
— Vamos lá, Sr. Eduardo Freire... Um café não vai atrapalhar o meu dia que já virou um pesadelo! — disse, freando o carro em frente ao prédio.
Ele entrou rapidamente, com um sorriso aberto.
— Ainda bem que tem bom coração. Ainda não aprendi a andar pelo Rio de Janeiro. Como bom Paulista que sou, evito vir por essas bandas.
— Vou levar isso em conta na próxima vez em que resolver te dar carona.
Gargalharam e seguiram rumo à cafeteria.
+++
— Muito bem, Sr. Eduardo Vasconcelos Freire, por que não disse quem era? — virou a xícara de café para molhar os lábios. De certa maneira sentia-se desconfortável com um homem tão importante sentado à sua frente.
—Não gosto de ficar expondo quem sou. Pode soar antipático. E... não achei necessário.
— Se eu tivesse a metade do que tem, eu sairia contando para todo mundo. — sorriu.
— Eu gostei da sua apresentação e acredito que com alguns ajustes será a campanha perfeita para o produto. Sério.
Amanda enrubesceu.
— Obrigada.
Após alguns minutos de silencio, Eduardo recostou-se na cadeira.
—Onde comprou aquele livro?
Amanda franziu a testa.
— Livro? Que livro?
— Vi na mesa de reuniões um livro de capa cinza.
Amanda ainda ficou por algum tempo tentando buscar na memória a imagem de um livro. O único fato do qual se lembrava era do rosto do presidente da empresa a observando gaguejar durante a apresentação.
— Ah... sim! Um livro que comprei em um sebo. Raríssimo, diga-se de passagem. Henry Sampson... “ A História da Publicidade”. É de 1874.
— Olha... que interessante. Já leu?
— Folheei. Não ando tendo muito tempo para a leitura ultimamente. — Levou a xícara até a boca, enquanto tentava parecer confortável diante da imagem imponente sentada à sua frente.
Eduardo, ajeitou-se novamente na cadeira.
— Será que eu poderia dar uma olhada nele?
Amanda ainda duvidando da conversa, deu de ombros.
— Claro... Mas... por que se interessa tanto assim?
— É um livro raro. Quem não se interessaria.
O silêncio voltou a tomar espaço na cafeteria. Eduardo ainda mexia o café com a colher quando voltou a olhar para Amanda.
— Posso buscar?
Amanda franziu a testa novamente.
— O que?
— O livro — respondeu Eduardo um pouco irritado.
Amanda ficou boquiaberta com a ansiedade do publicitário, sempre tão seguro e confiante.
— Posso levar amanhã para o trabalho, se quiser.
— Não! — Eduardo sorriu desconcertado. — Quero dizer... Não posso buscar hoje?
Amanda sorriu. Havia alguma coisa de errado no rapaz. Talvez aquela fosse a maneira que ele havia encontrado para chama-la para sair. As pessoas andavam estranhas e os relacionamentos estava passando por mudanças que não cabiam no seu estilo de vida.
— Olha aqui, Sr. Eduardo Freire... Vamos fazer assim. Se você me pagar um jantar, vou pensar no assunto. O que acha?
Ele não sorriu. De alguma maneira seu olhar fixo desconcertou Amanda. Ela sentiu que talvez ele quisesse dizer alguma coisa que ela não compreendia e sentiu um frio percorrer-lhe a espinha até seus cabelos da nuca arrepiarem-se.
— Te pago as nove. — Disse enquanto acenava para o garçom. Amanda nem teve tempo de responder e de certa maneira, ela não conseguiu negar.


continua...

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